domingo, 31 de dezembro de 2017

50 km femininos, acontecimento internacional de 2017

As participantes nos 50 km de Londres-2017.
Fotos: RaceWalk Pictures/Philipp Pohle e Alamy
Montagem: O Marchador
O ano de 2017 ficará na história do atletismo como aquele em que homens e mulheres passaram a dispor nos programas dos campeonatos mundiais da modalidade do mesmo número de provas (24+24). Com a inclusão dos 50 km marcha femininos, a equiparação ficou consumada, ainda que com diferenças «de pormenor», como as alturas das barreiras, os pesos dos engenhos de lançamento e o número de eventos nas provas combinadas.

A propósito do assunto, muitas vozes surgiram a questionar se aquele era o momento adequado para que os 50 km marcha femininos fossem objeto de atribuição de um título de campeã mundial, notando que poucas mulheres têm experimentado a distância em competição, poucas provas de 50 km têm sido destinadas a mulheres e poucos países (provavelmente nenhum) atribuem títulos nacionais nessa distância para as mulheres.

Em sentido contrário houve quem aplaudisse a iniciativa da Associação Internacional de Federações de Atletismo (AIFA), vendo nela um passo no sentido do reconhecimento da igualdade de direitos, conferindo a uma parte da população atlética uma oportunidade de que dispunha apenas outra parte dessa população.

A decisão da AIFA foi anunciada pelo seu presidente, Sebastian Coe, que numa conferência de imprensa realizada a 23 de Julho, informou também sobre as condições em que as atletas interessadas poderiam ser inscritas e participar na prova em questão.

O momento da tomada de decisão pelo Conselho da AIFA e a forma que terá decorrido o processo que levou à inclusão dos 50 km femininos no programa dos mundiais de Londres foram aspectos criticados no plano internacional. Por um lado, não se compreendia que uma decisão desta importância fosse tomada e anunciada pouco mais de uma semana antes do início dos campeonatos na capital britânica, tendo as federações nacionais dois dias para inscrever eventuais interessadas. Por outro lado, estranhava-se a forma pouco clara como o processo tinha decorrido, resultando numa decisão de última hora que beneficiava claramente as envolvidas, em detrimento de outras potenciais interessadas, que, confrontadas com uma decisão em cima do momento, ficaram impedidas de preparar-se devidamente para uma competição que podia ter sido estabelecida como objectivo de uma época caso tivesse sido anunciada com a devida antecedência.

De pouco serviu Sebastian Coe ter esclarecido que a decisão do Conselho vinha na sequência da participação de uma atleta dos Estados Unidos (Erin Taylor-Talcott) na edição de 2016 dos Mundiais de Marcha por Selecções (em Roma) e ter reconhecido que se tratava de uma decisão de última hora, com base no pedido feito por um «pequeno grupo de atletas». No final, o que ficou foi um processo opaco, cujos pormenores só aos poucos foram sendo conhecidos.

Esta situação devia ter sido evitada, acabando por deixar uma nódoa numa decisão positiva, que veio equiparar o número de oportunidades de sucesso para homens e mulheres nos campeonatos do mundo de atletismo, abrindo caminho para que outros níveis do atletismo procedam de igual modo (competições continentais e nacionais e até Jogos Olímpicos).

O futuro dirá se o sector feminino adere ou não à distância longa de competição em marcha (é de admitir que sim) e dará a conhecer os verdadeiros contornos do processo que levou á decisão. Em todo o caso, para o bem e para o mal, a inclusão dos 50 km marcha femininos no programa dos campeonatos do mundo de atletismo foi o acontecimento internacional de 2017 no âmbito da marcha atlética.