quarta-feira, 3 de agosto de 2016

José Pinto: o primeiro marchador português nuns Jogos Olímpicos

José Pinto e os Jogos Olímpicos.
Foto: Acácio Franco/LUSA
Quando Carlos Lopes conquistou o título olímpico da prova da maratona dos Jogos de Montreal, em 1976, iniciando um ciclo de êxitos para o atletismo português, a marcha atlética no nosso país dava as suas primeiras passadas, num caminho carregado de obstáculos.

Em finais de 1974, em Viseu, sob o impulso de José Madeira, realizaram-se atividades competitivas que reuniram cerca de oito centenas de participantes, destacando-se, de todos quantos participaram na prova, Carlos Albano. O gosto pela marcha surgiu no verão daquele ano quando assistia, na sua casa, em Silgueiros, e na companhia de Fonseca e Costa e Rui Mingas, a mais uma jornada dos europeus de Roma, observando, com muita atenção, os marchadores que terminavam a sua prova. Foi internacional nos 50 km marcha, na primeira vez que Portugal participou numa Taça do Mundo (Nova Iorque, 1987).

Em 1975, na zona da Póvoa de Santa Iria, o francês Raymond Ismal e o seu amigo e colega de trabalho, Aires Denis, dinamizavam a atividade fomentando competições em toda aquela área do estuário do Tejo e no Magoito (Sintra). A Associação de Atletismo de Lisboa (sobretudo através de Mário Paiva) apadrinhou o esforço de Aires Denis e companheiros, integrando o dirigente povoense na estrutura diretiva.

Ainda em 1975, em Lisboa, na pista de atletismo do Sport Lisboa e Benfica, Francisco Assis, que coordenava um programa lançado pela então Direção-Geral dos Desportos, na captação de jovens para o atletismo, introduzia a desconhecida disciplina da marcha atlética no conjunto das outras especialidades do atletismo e com isso ganhava os primeiros especialistas. Que continuariam o trabalho de promoção e de luta pela institucionalização da especialidade. A marcha entrou no Torneio dos Bairros desse ano e ainda se realizaram provas em redor do antigo Estádio da Luz, sob impulso de, entre outros, Arnaldo Santos, que foi presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Atletismo.

E foi José Pinto, um dos marchadores que mais se distinguiram nas atividades levadas a efeito por Assis, que se revelaria internacionalmente. Passando a representar o Clube de Futebol “Os Belenenses”, numa política concertada de “sementeira” da especialidade por outros clubes da região de Lisboa, Pinto foi o grande dominador  da marcha atlética portuguesa na década de 80.

Foi o primeiro marchador português a estar representado nuns Jogos Olímpicos e o único atleta masculino, até aos dias de hoje, a conquistar uma posição nos oito primeiros lugares. Los Angeles, em 1984, marcou um novo ciclo para a especialidade em Portugal. A imprensa desportiva e generalista deu grande destaque ao resultado do José Pinto abrindo-se novas portas à aceitação pela FPA da integração da especialidade no âmbito dos programas dos campeonatos nacionais.

Carlos Miranda, diretor do jornal “A Bola”, entre 1975 e 1992, e seu enviado-especial a vários Jogos Olímpicos, relatava assim a proeza de José Pinto:

“ Classificando-se em oitavo lugar na prova de 50 km marcha dos Jogos Olímpicos, o belenense José Pinto recebeu justo prémio, para a sua perseverança, para a sua para a sua teima em favor da difícil e mal-amada disciplina, e prémio, igualmente, para o seu progredir, para a sua categoria, que tem já de ser considerada a nível internacional.

   E dá vontade de perguntar se Portugal, com tão poucos praticantes a sério, só com um de nível internacional, foi capaz de ir buscar o oitavo lugar nestes Jogos, que poderia acontecer se a marcha fosse acarinhada e recebesse tratamento prioritário, no estilo do que recebem o fundo e o meio-fundo, pois os portugueses parecem ter qualidades para a especialidade. Isto sem humorismos baratos e sem referência a dificuldades económicas...