sexta-feira, 1 de abril de 2016

Assembleia da FPA votará fim dos nacionais de 50 km marcha?

A Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Atletismo marcada para este sábado prepara-se para tratar assuntos constantes de uma convocatória de que consta a «aprovação da inclusão do Campeonato Nacional de Marcha em Estrada de 35 km no calendário nacional». A ideia de validar a integração de um campeonato de 35 km marcha no calendário nacional de atletismo já vinha do início de 2016, momento em que a FPA divulgou a realização de um campeonato da distância, «pendente de aprovação em próxima Assembleia Geral da FPA e inclusão futura no calendário regular deste Campeonato».

Quando em 2014/2015 a FPA decidiu pôr termo aos campeonatos de 50 km marcha, voltando depois atrás quando a generalidade dos marchadores fez sentir a insensatez dessa decisão, a direcção da federação pôs em andamento um plano para impor o campeonato de 35 km, fazendo de conta que não acabava com o de 50 km.

Ao que se sabe, e sem que tenha sido remetido às associações distritais qualquer documento a justificar esta proposta, é preciso que se entenda (o que a direcção da federação não quis explicar) que a aprovação dos campeonatos de 35 km significará o fim formal dos campeonatos da distância oficial e olímpica de 50 km em Portugal, pois não existe espaço nem mesmo se justifica a existência de dois campeonatos (35 e 50 km).

De uma forma habilidosa e encapuzada, a direção da FPA transfere a responsabilidade para as associações distritais ao querer que estas aprovem um campeonato nacional de uma distância sem qualquer nexo para substituir uma do programa olímpico, algo que assume traços de escândalo como nunca antes sucedeu na marcha atlética em Portugal.

E faz incluir este ponto na ordem de trabalhos sem fornecer qualquer material para reflexão prévia, na expectativa de que ninguém levante questões e o assunto passe sem discussão. Mas cabe perguntar: assim, as associações vão votar o quê? Se não tiveram oportunidade de reflectir acerca do assunto (pela já referida falta de documentos de sustentação da proposta), como podem participar numa votação? Ou será que o ponto vai ser considerado aprovado sem recurso a votos?

Os menos atentos ao assunto, ou a quem a disciplina da marcha pouco diga, são levados a concluir que a intenção federativa é benéfica e que pretende fazer com que participem mais atletas numa distância inferior. Mas é sabido (e a prática confirma) que o setor técnico específico de marcha na FPA e o treinador nacional de marcha nada fizeram para promover e apoiar os atletas da distância de 50 km. Antes pelo contrário, optaram pela eliminação pura e simples do respectivo campeonato – da mesma maneira que já tinham «eliminado» a possibilidade de esses atletas tomarem parte em grandes competições internacionais, como sucedeu nas mais recentes edições das taças do mundo e da Europa de marcha, com casos como aquele em que à última hora foram alteradas as marcas de referência para graus de exigência inalcançáveis.

Acaso se eliminaria o campeonato nacional da maratona ou se reduziria a mítica distância dos 42,195 km para 40 km, ou 38 km ou qualquer outra? É por si só o número de atletas participantes que justifica a extinção de campeonatos de disciplinas sejam elas quais forem? Exemplos há vários, na pista e em estrada, de provas que têm muito poucos participantes e nem por isso deixam de fazer parte dos programas dos campeonatos nacionais ou de Portugal. E se a FPA fosse coerente com as suas propostas, também teria de submeter à discussão e votação propostas para eliminação dessas provas dos campeonatos de que fazem parte.

Por muito que se aponte a solução dos 35 km como servindo para preparar uma futura retoma dos campeonatos de 50 km, a verdade é que nunca os 50 km voltarão a ter campeonatos nacionais em Portugal se não forem tomadas medidas de incentivo a essa distância olímpica. Ou seja, é desculpa de mau pagador (ou mesmo hipocrisia) pretender justificar a existência do campeonato de 35 km como um pretenso benefício futuro nos 50 km.

Tudo isto surge ao contrário da tendência internacional, que, como se sabe, vai no sentido de alargar a distância longa ao sector feminino, e não para o lado do empobrecimento do sector masculino. Ainda para mais, este processo desenvolve-se também no momento em que nada menos que três atletas portugueses têm mínimos olímpicos precisamente nos 50 km marcha. Se esses atletas um dia quiserem voltar a fazer mínimos para os Jogos Olímpicos ou para campeonatos mundiais ou europeus, de certeza não será nuns campeonatos de 35 km que vão procurá-los.

A última palavra é agora das associações distritais, assim se sintam aptas a debater o tema e preparadas para votar.