segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

María Vasco diz adeus à marcha de competição

Maria Vasco em Sydney-2000 onde alcançou
uma medalha olímpica.
A marchadora espanhola María Vasco anunciou no passado dia 13 de Novembro ter posto termo à actividade competitiva na marcha atlética, ao fim de mais de duas décadas de desempenhos ao mais alto nível. A atleta natural de Viladecans (Catalunha) convocou uma conferência de imprensa para aquele dia a fim tornar pública a decisão.

«Sempre soube que a minha carreira tinha prazo de validade e queria ser eu a decidir. Esse momento chegou», declarou aos jornalistas de forma emocionada, adiantando a falta de motivação e novos horizontes na sua vida como justificação para se decidir a parar: «Muitas pessoas que me estão próximas não querem que me retire, mas na vida há já outras coisas que me iluminam o olhar e me fazem seguir para uma nova etapa pessoal.»

Nascida em Dezembro de 1975, María Vasco iniciou-se na marcha atlética aos 11 anos, inspirada por ver a treinar no seu bairro as credenciadas marchadoras Mari Cruz Díaz e María Reyes Sobrino, as mais destacadas especialistas espanholas dos anos 80 e início da década de 90. «Foi Manolo Díaz, pai de Mari Cruz, quem me iniciou na marcha e curiosamente não foi preciso ensinarem-me a marchar, porque tinha aprendido a técnica vendo a Mari Cruz e a Reyes a treinar», revelou durante a conferência de imprensa.

Para o futuro, esta já «ex-»marchadora que se caracteriza a si própria como uma mulher inquieta diz querer continuar ligada ao desporto e à marcha atlética, mas desvenda que também a maternidade, a beleza e a moda estão a atraí-la.

María del Monte Vasco Gallardo termina assim a carreira de marchadora competitiva como única atleta feminina do atletismo espanhol a ter alcançado uma medalha olímpica. Aconteceu nos Jogos de Sydney de 2000, quando terminou os 20 km no terceiro lugar, sendo a única entre os 58 membros da delegação (34 masculinos e 24 femininos) a fazer subir a bandeira de Espanha aos mastros protocolares da modalidade.

Esse terá sido o momento mais alto da carreira da atleta catalã, que viveu nos europeus de Barcelona, em 2010, a maior tristeza desportiva, ao desistir por lesão na prova de 20 km marcha femininos. «Sabia que era o meu último europeu e lesionei-me. Não consegui chegar ao fim e passei um mau bocado. Com as vitórias aprende-se muito, mas mais ainda se aprende com as derrotas. E dessa vez aprendi mesmo muito», explicou.

A primeira internacionalização de María Vasco aconteceu aos 14 anos, por ocasião dos mundiais de juniores de Plovdiv, na Bulgária. Foi 15.ª classificada, num dia em que a vitória sorriu a Susana Feitor, apenas uns meses mais velha. Terá sido esse o primeiro de muitos encontros entre as duas maiores figuras da marcha feminina da Península Ibérica.

Nos anos seguintes, María Vasco melhoraria os desempenhos nos mundiais desse escalão, passando a sexta em Seul-1992 e a quarta em Lisboa-1994. Pelo meio foi também quarta nos europeus de San Sebastian, em 1993.

Já como sénior participou em cinco edições dos Jogos Olímpicos, de Atlanta-1996 a Londres-2012, e ainda em oito mundiais de atletismo, quatro europeus, oito taças do mundo de marcha e oito taças da Europa. Para além da já referida medalha olímpica de Sydney, María Vasco obteve nessas participações outras importantes classificações, como as vitórias na Taça da Europa de Metz (2009) e na Taça do Mundo de Chihuahua (2010) ou os terceiros lugares na Taça da Europa de Cheboksary (2003), na Taça do Mundo de Naumburg (2004) e nos mundiais de Ósaca (2007), a que se juntam ainda os segundos lugares nos Jogos do Mediterrâneo de 2005 (Almería) e nos europeus de sub-23 de 1997 (Türkü).

Entre 1990 e 2012 vestiu a camisola nacional em 41 ocasiões: 36 em selecções absolutas, quatro como júnior e uma em sub-23. Permanece como recordista de Espanha de 5 km, 10 km e 20 km marcha em estrada e ainda de 3000 m marcha em pista, tendo sido no passado também detentora dos máximos espanhóis de 5000 e 10.000 metros marcha em pista.

María Vasco manifesta agora vontade de correr uma maratona e garante que vai continuar a praticar desporto ao longo da vida. «Já levo 27 anos nesta actividade, mas daqui em diante não vou calçar as sapatilhas por obrigação. Quero correr uma maratona. Já fiz muitas meias-maratonas e quero saber como é fazer uma maratona. Tenho muito respeito por essa distância e devo prepará-la. O que agora me motiva é correr e subir para uma bicicleta para perceber o que se sente», comentou.

Apesar do grande valor das melhores marchadoras de Espanha, María Vasco tem um lugar ímpar na história da marcha do país vizinho, sendo ao mesmo tempo um nome que foi capaz de granjear o maior respeito no muito selecto mundo da marcha atlética.