quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Grandes Figuras da Marcha Mundial (5) – Ernesto Canto

Ernesto Canto, sagrando-se campeão olímpico
em Los Angeles, 1984
Num certo dia de Dezembro de 1972, na cidade de Monterrey, algumas dezenas de jovens marchadores entraram em pista para disputar a prova de 600 metros de infantis-B dos campeonatos mexicanos de marcha atlética. Para acompanhar as provas, dois juízes muito especiais: Raúl González (membro da selecção nacional aos Jogos Olímpicos de Munique, três meses antes) e Daniel Bautista. O campeão seria um rapazito de 13 anos, Ernesto Canto Gudiño, que mal cabia em si de emoção quando, no pódio, recebeu o prémio das mãos de Bautista. Era o primeiro encontro entre esses dois grandes campeões.
 
No ano seguinte, na cidade venezuelana de Maracaibo, o jovem Canto sagrar-se-ia campeão da América Central e Caraíbas de juniores (10 km), registando aí o seu primeiro título internacional de uma carreira competitiva recheada de sucessos.
 
Ernesto Canto nascera numa família com tradições no desporto. O pai, Enrique Canto, fora jogador de basquetebol, sendo os seus jogos acompanhados pelos filhos. Ernesto optou pelo futebol, pelo basquetebol e pelo voleibol, modalidades em que integrou as selecções da escola primária que frequentou.

Chegado ao liceu iniciou-se no atletismo e logo atraiu a atenção do professor de Educação Física, Miguel Ángel Sánchez, que, no início de 1972, o levou a uma série de provas, até que chegou a Monterrey e ao título nacional de infantis.
 
A qualidade e o entusiasmo do jovem marchador foram crescendo e o menino Ernesto transformou-se no jovem Canto que já integrava a selecção mexicana. Assim, veio a fazer parte do grupo de trabalho para os Jogos Olímpicos de 1980, em Moscovo.  O lugar na selecção estava assegurado quando uma lesão contraída num estágio no Peru o impossibilitou de competir na capital soviética. Faltavam poucos dias e não havia nada a fazer.
 
Mas como nem tudo na vida é azar, Ernesto foi convidado a acompanhar a delegação mexicana a Moscovo. Aí acabou por ter uma das maiores desilusões da vida, com a desclassificação do seu ídolo e amigo Daniel Bautista, já na parte final do 20 km marcha, que comandava isolado. Nessa ocasião, Canto prometeu a si mesmo que daí a quatro anos, em Los Angeles, vingaria o sucedido, ganhando ele próprio a medalha de ouro.
 
O ciclo olímpico iniciado em Moscovo (1980-84) terá correspondido ao melhor período competitivo do atleta mexicano. Em 1981 ganharia em Valência os 20 km da Taça Lugano, com 1.23.52 h. Dois anos mais tarde venceria tanto nos Jogos Pan-americanos de Caracas (Venezuela) como nos I Mundiais de Atletismo, em Helsínquia (Finlândia), enquanto na Taça Lugano de Bergen (Noruega), apesar de fazer mais de quatro minutos melhor que em Valência, seria segundo, atrás do fantástico checoslovaco Josef Pribilinec.
 
Para preparar os Jogos de Los Angeles, o treinador Jerzy Hausleber entendera que seria importante atacar recordes mundiais para pressionar os adversários. Por isso, Canto tentou e conseguiu estabelecer novos máximos da hora e dos 20 km em pista.
 
E chega o dia da verdade, 3 de Agosto de 1984. As bancadas do Memorial Stadium de Los Angeles estão repletas, com muitos vizinhos mexicanos aguardando os 20 km marcha. O calor aperta fortemente quando, às 17h15, soa o tiro de partida. Logo os mexicanos Canto, González e Colín tomam a dianteira, mas é o canadiano Guillaume Leblanc quem sai do estádio à frente, destacado. Com aquele calor ninguém quis acompanhá-lo. Leblanc seria alcançado pouco depois, com Canto a passar à frente aos cinco quilómetros (20.46) e aos dez quilómetros (41.33). Só González, Leblanc e o italiano Damilano (campeão olímpico em título) o acompanham. Aos 12 quilómetros, Damilano ataca e ganha vantagem, mas os mexicanos mantêm-se atentos e seguem-no de perto. O italiano é o primeiro a passar aos 15 quilómetros, altura em que Guillaume Leblanc já se atrasara. Cerca dos 18 quilómetros, Maurizio Damilano começa a ceder, tal como Raúl González.
 
É a hora de Ernesto Canto. A caminho do estádio toma a liderança e entra isolado na pista. Ninguém consegue deter a sua marcha vitoriosa. Canto contaria mais tarde: «Foi um momento grandioso. O público levantou-se e começou a aplaudir-me. Centenas de bandeirinhas mexicanas eram agitadas nas bancadas. Só desejava cortar a meta. Quando o consegui disse para comigo: 'Aqui estou!
Consegui! Cumpri a minha promessa.'»
 
O blogue O Marchador felicita o grande campeão mexicano no dia em que comemora mais um aniversário.

Currículo
Nome: Ernesto Canto Gudiño
Naturalidade: Cidade do México (México)
Data de nascimento: 18/10/1959

«Palmarès»
1972: campeão nacional de infantis-B
1973: campeão da América Central e Caraíbas de juvenis (Maracaibo)
1976: campeão da América Central e Caraíbas de juvenis (Jalapa)
1979: 7.º lugar nos 20 km da Taça Lugano (Eschborn)
1981: 1.º lugar nos 20 km da Taça Lugano (Valência)
1983: 1.º lugar nos 20 km dos Jogos Pan-americanos (Caracas)
1983: campeão do mundo de 20 km (Helsínquia)
1983: 2.º lugar nos 20 km da Taça Lugano (Bergen)
1984: recorde mundial da hora e dos 20 km em pista (Bergen)
1984: campeão olímpico dos 20 km (Los Angeles)
1984: 10.º classificado nos 50 km dos Jogos Olímpicos (Los Angeles)
1987: 3.º lugar nos 5000 m marcha dos Mundiais de Pista Coberta (Indianapolis)
1989: 13.º lugar nos 20 km da Taça do Mundo de Marcha (Barcelona)
1991: 2.º lugar nos 20 km da Taça do Mundo de Marcha (San Jose)
1991: 5.º lugar nos 20 km dos Jogos Pan-americanos (Havana)
1992: 29.º lugar nos 20 km dos Jogos Olímpicos (Barcelona)