sábado, 29 de setembro de 2012

Grandes Figuras da Marcha Mundial (4) – Hartwig Gauder

Hartwig Gauder, vencendo os 50 km dos mundiais
de Roma de 1987. Foto: George Herringshaw
Esta é uma história pouco banal de um atleta também ele invulgar. Hartwig Gauder nasceu na cidade oeste-alemã de Vaihingen, perto de Estugarda, em 1954. Seis anos depois, a mãe de Hartwig herdou uma casa em Ilmenau, cidade da ex-RDA para onde a família se mudou logo de seguida.
 
Ainda jovem, Hartwig Gauder começou a dedicar-se à prática desportiva e aos 19 anos torna-se campeão da Europa de juniores de 10 mil metros marcha. Começava aí uma fulgurante carreira internacional que lhe permitiria estar ao nível dos melhores especialistas do mundo durante nada menos que 20 anos. Como sénior, o valor iria sendo confirmado com regular presença entre os primeiros nas grandes competições internacionais, conquistando o primeiro título olímpico em 1980, nos 50 km marcha dos Jogos de Moscovo.
 
Daí em diante sucederam-se os grandes feitos atléticos, que incluíram vitórias na Taça do Mundo de 1985, em Douglas, nos europeus de 1986, em Estugarda, e nos mundiais de 1987, em Roma, sempre em 50 km.
 
A carreira competitiva de Hartwig Gauder viria a terminar em 1993, com o 8.º lugar nos 50 km da Taça do Mundo de Monterrey, no México, após presença incomparável em dois campeonatos do mundo, três Jogos Olímpicos, quatro campeonatos da Europa e oito taças do mundo.
 
No ano seguinte começa uma nova saga para esta figura internacional da marcha, ao ser-lhe diagnosticado um grave problema cardíaco. Examinado no Instituto Alemão de Cardiologia, constata-se um grande enfraquecimento do músculo cardíaco, incapaz agora de realizar esforços superiores a 20 por cento do normal. A causa da doença não é detectada, apesar de inicialmente se falar em infecção viral, mas uma coisa é certa: com um coração assim tão fraco, a esperança de vida é muito reduzida. Os médicos decidem então implantar um coração artificial.

Após uma operação de sete horas, Gauder espera para ver como o organismo reage a um órgão sintético. De início, tudo parecia correr bem, mas o optimismo não durou muito tempo e, em Outubro de 1996, o estado de saúde do antigo campeão olímpico agrava-se subitamente. Os médicos tomam nova decisão drástica: é preciso transplantar um coração humano, o que vêm a fazer a 30 de Janeiro de 1997.
 
Mais uma vez, a operação correu bem, mas agora o organismo reagiu como se desejava e a vida de Hartwig Gauder entrou numa fase calma, apesar das frequentes solicitações da imprensa para que contasse a sua história. Aproveitando os tempos livres, Gauder escreveu um livro, publicado em 1998 com o sugestivo título de «A Minha Vida com o Terceiro Coração», no qual narrava a invulgar experiência por que tinha passado nos anos precedentes.
 
Os anos seguintes foram marcados pelo regresso à normalidade possível para um homem que por duas vezes teve a vida em grave risco mas a quem a determinação de viver e a coragem de lutar contra a morte transformaram num exemplo para todos os que lhe conhecem a história.
 
E como a vida tem as suas agruras mas tem de continuar, Hartwig Gauder retomou a vida desportiva logo que pôde, tendo participado em várias edições da Maratona de Nova Iorque, classificado como deficiente em virtude do transplante a que foi sujeito. Curiosamente, numa dessas participações acabou por ser desclassificado, por ter registado um tempo melhor que o permitido para a sua
condição.
 
Variando o âmbito da actividade, em 2003 escalou o ponto mais alto do Japão, o monte Fúji, que se ergue a 3776 metros de altitude. Pelo meio ainda teve forças para concluir a licenciatura em Arquitectura e experimentar o pára-quedismo.
 
Para Hartwig Gauder, a vida continua.
 
Currículo
Nome: Hartwig Gauder
Naturalidade: Vaihingen (Alemanha)
Data de nascimento: 10/11/1954

«Palmarés»
1973: campeão europeu de juniores de 10 mil metros marcha
1978: 7.º nos 20 km dos europeus de Praga
1979: 7.º nos 20 km da Taça do Mundo de Eschborn
1980: campeão olímpico dos 50 km nos Jogos de Moscovo
1981: 2.º nos 50 km da Taça do Mundo de Valência
1982: 4.º nos 50 km dos europeus de Atenas
1985: 1.º nos 50 km na Taça do Mundo de Douglas
1986: campeão dos 50 km nos europeus de Estugarda
1987: campeão dos 50 km nos mundiais de Roma
1987: 2.º nos 50 km da Taça do Mundo de Nova Iorque
1988: 3.º nos 50 km dos Jogos Olímpicos de Seul
1990: 3.º nos 50 km dos europeus de Split
1991: 3.º nos 50 km dos mundiais de Tóquio
1992: 6.º nos 50 km dos Jogos Olímpicos de Barcelona
1993: 8.º nos 50 km da Taça do Mundo de Monterrey
 
Pode ver um resumo da vida desportiva e do drama de saúde deste atleta num pequeno filme publicado  aqui.