domingo, 4 de setembro de 2011

A marcha, os mundiais e a informação

O superquarteto da marcha feminina portuguesa.
Fotos: Lusa
A elevada qualidade do desempenho das marchadoras portuguesas nos mundiais de atletismo que acabam de decorrer na Coreia do Sul deu natural oportunidade a que os órgãos de informação louvassem as três atletas que protagonizaram o feito de ter terminado até ao décimo lugar. Um sucesso magnífico de Susana Feitor (6.ª), Ana Cabecinha (7.ª) e Inês Henriques (10.ª), a justificar plenamente a atenção dada pela imprensa, pela rádio e pela televisão, ainda que essa atenção mediática andasse mais centrada num desentendimento entre um jogador e um treinador de futebol. Respeitáveis e prestigiados um e outro, mas nada mais do que isso.

O desempenho das marchadoras portuguesas em Daegu foi, sem dúvida, notável e está ao alcance apenas de atletas do maior gabarito mundial. E quase nem valeria a pena recordar aos visitantes deste blogue a excelência do triunfo daquele mesmo trio e de Vera Santos na Taça do Mundo de Marcha de 2010, no México, feito porventura ainda mais relevante mas do qual pouco eco se detectou em quase toda a informação desportiva em Maio do ano passado. Agora, na Coreia, uma classificação colectiva que se fizesse colocaria Portugal atrás apenas da Rússia e da China e mesmo assim conseguindo «fechar» primeiro que qualquer delas.

Mas cabe perguntar: os resultados obtidos agora em Daegu serão diferentes dos alcançados ultimamente pelas nossas marchadoras em campeonatos mundiais? A resposta não pode ser outra: há vários anos que são alcançados sucessos iguais a este, só que a memória parece curta.

Vejamos. Portugal apresentou pela primeira vez três atletas na prova feminina de marcha de uns mundiais de atletismo no ano de 2001, em Edmonton. Naquela que foi a pior participação de sempre de marchadores portugueses (tanto masculinos como femininos) em mundiais de atletismo e que serviu de lição bem aprendida, só uma atleta concluiu os 20 km femininos – Sofia Avoila, 21.ª (1.39.10); Inês Henriques e Susana Feitor foram desclassificadas.

Em 2005, Portugal voltou a apresentar três atletas na competição feminina de marcha e desde então não mais parou de fazê-lo, sempre com excelentes resultados. Em Helsínquia-2005, Susana ganhou a medalha de bronze, enquanto Inês Henriques e Vera Santos terminavam na 15.ª e na 27.ª posições. Foi uma apresentação mais desequilibrada, mas largamente compensada pela conquista de Susana.

Em 2007, Ósaca assistiu a um desempenho das marchadoras portuguesas muito parecido com o que agora se verificou em Daegu: Susana foi 5.ª, Inês foi 7.ª e Vera terminou em 11.º lugar. Se houvesse uma classificação colectiva calculada da mesma forma que na Taça do Mundo, Portugal teria alcançado exactamente os mesmos pontos que este ano na Coreia: 23.

Por fim, em Berlim-2009, apenas mais três pontos para a «equipa»: Vera, 5.ª; Susana, 10.ª; Inês, 11.ª

Como se vê, a presença de marchadoras portuguesas nos mundiais de atletismo da última década tem sido coroada de êxitos assinaláveis.
O valor demonstrado no presente tinha já expressão no passado mais ou menos recente.

Tratemos de saborear bem este doce que as nossas marchadoras nos ofereceram lá longe, na Coreia do Sul, onde as diferenças climáticas do Oriente quente e húmido parece afectarem menos as nossas atletas do que poderia recear-se.

A seguir teremos de pensar num problema que se põe para o futuro: como será a marcha portuguesa na alta competição mundial nos próximos anos? A curto prazo (1 ou 2 anos), não deverá haver complicações, pelo menos no sector feminino, mas a médio e a longo prazos já não pode dizer-se o mesmo. Há aí um campo importante para reflexão e para eventual tomada de medidas que podem começar a ser tardias. No entanto, esse já é outro assunto.