quarta-feira, 6 de julho de 2011

Recorde nacional de Joaquim Pentieiro faz hoje 20 anos

Joaquim Pentieiro em 1993, após a vitória
no Torneio Nacional de Sub-23, em Alvalade.
Foto: Arquivo O Marchador
A 6 de Julho de 1991, faz hoje 20 anos, o Estádio Nacional, em Lisboa, assistiu a um dos mais surpreendentes desempenhos de atletas portugueses em provas de marcha atlética. Decorriam nesse fim-de-semana os Campeonatos Nacionais de Clubes da I Divisão, reunindo no sector masculino Académica, Belenenses, Benfica, CDUP, CIPA, Sporting, Vilamoura e Vitória de Setúbal.

Nos 5000 m marcha, sem representação do Sporting, o favoritismo ia para o benfiquista recordista nacional José Urbano, que logo ao sinal de partida se destacou de toda a concorrência. Atrás dele, a uma distância cada vez maior, formou-se um quarteto com José Pinto (CF Belenenses), Mário Contreiras (Vitória de Setúbal), Carlos Gomes (Académica) e o juvenil Joaquim Pentieiro (CIPA). Mais para trás, o antigo recordista nacional dos 20 km Paulo Alves, a fazer uma «perninha» pelo Vilamoura, e o não-especialista César Ferreira, desejoso apenas de marcar alguns pontos para o seu CDUP.

Já com José Urbano a cem metros de distância, o quarteto intermédio passava ao final dos primeiros mil metros com 4.04 m, num ritmo que se percebia demasiado elevado para o valor dos atletas em causa, excepção feita ao olímpico José Pinto, mas que naqueles dias se apresentava debilitado por anemia. Mas a intensidade do ritmo não demoveu o jovem Joaquim Pentieiro, que, para surpresa de todos, se mantinha em contacto com o grupo liderado por Contreiras e Pinto.

Apesar de ser claramente mais novo que os restantes concorrentes, Joaquim Pentieiro não era propriamente um desconhecido. Em Fevereiro desse ano tinha conquistado o título de juvenis nos campeonatos nacionais de marcha em estrada disputados em Santa Maria da Feira, com 50.48 m nos 10 km, registando outros desempenhos interessantes em provas diversas. Mas nada que fizesse supô-lo apto a competir ao nível dos experimentados seniores.

No entanto, nada desmotivou o marchador do CIPA, que resistiu a todas as variações de ritmo. E acabaria por ser ele mesmo a desferir um ataque determinado e decisivo à entrada para a última volta. Com o grande favorito José Urbano já com a meta cortada, Pentieiro enfrentou os 400 metros finais num ritmo que lhe permitiu ganhar em poucos segundos o avanço que acabaria por garantir-lhe o segundo lugar na prova. Coroando essa exibição, a marca de 21.16,88 m constituía novo recorde nacional de juvenis, um máximo que perdura, passados que já vão nada menos que 20 anos.

Joaquim Pentieiro nasceu na Póvoa de Varzim a 25 de Junho  de 1974, tendo como marchador representado apenas um clube, o Centro de Iniciação e Promoção do Atletismo (CIPA), sob a orientação técnica de Marco Paulo Costa.

Para além do já referido título de estrada, Joaquim Pentieiro viria ainda nessa época a conquistar os títulos de campeão nos nacionais de pista de juvenis (5000) e de juniores (10.000) respectivamente com 23.13,2 m (Lisboa, Alvalade) e com 43.49,8 m (Lisboa, Estádio Nacional).

No ano seguinte, venceria os 20 km para juniores nos nacionais de estrada (Rio Maior, 1.41.38), sendo segundo nos 10 mil metros marcha do Torneio Nacional de Sub-23 (Maia, 44.54,88). Por fim, em 1993, venceria o nacional de juniores em pista (Viseu, 10.000 m, 46.06,53) e o Torneio Nacional de Sub-23 (Lisboa, Alvalade, 10.000 m, 43.43,3).

A rematar a época de 1993, a única internacionalização de Pentieiro, registada nos europeus de juniores, em San Sebastian (Espanha), onde se classificou no 10.º lugar dos 10 mil metros marcha, com 42.55,12 m, marca que ficaria definitivamente como seu recorde pessoal. Só Augusto Cardoso, com o oitavo lugar nos europeus de juniores de Varazdin, na Jugoslávia, em 1989, tinha alcançado melhor classificação entre os marchadores juniores masculinos portugueses em provas de nível continental ou mundial. E seria preciso esperar até 2003 (europeus de Tampere) e 2009 (europeus de Novi Sad), para que de novo o 10.º lugar fosse alcançado por marchadores juniores masculinos portugueses, através, respectivamente, de Diogo Martins e Luís Lopes. Apesar de não se ter classificado nos primeiros 10 (foi 11.º), João Vieira registou nos mundiais de juniores de Lisboa, em 1994, marca superior à de Pentieiro, com 42.26,17 m.

Joaquim Pentieiro ainda tentaria em 1994, em Rio Maior, uma segunda experiência nos 20 km, saldada por uma desistência, espécie de antecâmara do prematuro abandono de uma das mais promissoras carreiras da marcha atlética portuguesa.

A título de curiosidade, aqui fica a classificação da prova em que Joaquim Pentieiro estabeleceu o actual recorde nacional de juvenis masculinos dos 5000 m marcha:

1.º, José Urbano (SL Benfica), 19.27,89
2.º, Joaquim Pentieiro (CIPA), 21.16,88
3.º, José Pinto (CF Belenenses), 21.17,76
4.º, Carlos Gomes (A Académica de Coimbra), 21.18,41
5.º, Mário Contreiras (Vitória FC), 21.34,13
6.º, Paulo Alves (GD Vilamoura), 29.04,83
7.º, César Ferreira (CDUP), 31.33,18